sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Lágrimas de Saudade


As malas feitas olhavam as horas. As mãos conquistam-se mutuamente. Olhares de tenra saudade encontram-se. Sorrisos ligeiros disfarçam a tristeza. Os corpos juntam-se. Abraçam-se. Sentem-se. Amam-se. As testas juntam-se, aproximando os olhos lacrimosos da despedida. Os queixos encaixam nos ombros. Dançam a valsa silenciosa que os sentimentos despertam. Formam-se laços entrelaçados nas gargantas, um aperto no estômago. Lágrimas descem, de mãos dadas, pelas faces. Lábios aproximam-se como hímenes. Beijam-se apaixonadamente. Devoram os últimos segundos que teimam em correr. A melodia acaba. A hora chega. Amantes afastam-se forçosamente. Um  pega nas malas, o outro observa. Olham-se uma última vez em nome da incerteza de um novo reencontro. Aragens frias arrepiam a pele. Lágrimas enchem os olhares trocados. A porta é aberta. Um vulto infeliz sai, carregado, por esta, fechando-a. O outro vulto desconsolado corre à janela. Esconde-se nos cortinados brancos. Um carro acorda. Resmunga. Corre pela rua deixando só aquele vulto solitário, chorando a nostalgia do momento. Vira-se. Olha o chão escuro atravessado por um tapete. Havia algo caído. Um postal. Agarrou-o e leu-o. Dizia “ Amo-te João”.