As
malas feitas olhavam as horas. As mãos conquistam-se mutuamente. Olhares de tenra
saudade encontram-se. Sorrisos ligeiros disfarçam a tristeza. Os corpos
juntam-se. Abraçam-se. Sentem-se. Amam-se. As testas juntam-se, aproximando os olhos
lacrimosos da despedida. Os queixos encaixam nos ombros. Dançam a valsa
silenciosa que os sentimentos despertam. Formam-se laços entrelaçados nas
gargantas, um aperto no estômago. Lágrimas descem, de mãos dadas, pelas faces.
Lábios aproximam-se como hímenes. Beijam-se apaixonadamente. Devoram os últimos
segundos que teimam em correr. A melodia acaba. A hora chega. Amantes
afastam-se forçosamente. Um pega nas
malas, o outro observa. Olham-se uma última vez em nome da incerteza de um novo
reencontro. Aragens frias arrepiam a pele. Lágrimas enchem os olhares trocados.
A porta é aberta. Um vulto infeliz sai, carregado, por esta, fechando-a. O
outro vulto desconsolado corre à janela. Esconde-se nos cortinados brancos. Um
carro acorda. Resmunga. Corre pela rua deixando só aquele vulto solitário,
chorando a nostalgia do momento. Vira-se. Olha o chão escuro atravessado por um
tapete. Havia algo caído. Um postal. Agarrou-o e leu-o. Dizia “ Amo-te João”.