quarta-feira, 6 de julho de 2011

Diário de Bordo

Diário de bordo



Querido Diário,


Mais um dia em que passo nas ruas desta cidade. Não imaginas como isto é! A sede, o calor, a fome… são algo que já não consigo suportar. Percorro estas ruelas sem destino. A esperança de voltar ao meu país, ao meu Mundo, à minha pátria, ao meu domínio começa a desaparecer. Estou sozinho. Os homens olham-me com desconfiança. As mulheres desviam os olhares. Os cães ignoram-me. E até as cobras, que rastejam nesta terra como eu, desaparecem assim que me pressentem.

Será injusto um homem lutar pela sua pátria? Será tão maléfico o acto de querer ser português? Responde-me, diário! Desculpa. Não tens culpa do que me acontece. Mas, sinceramente, começo a pensar que os que lutam pelo que querem, de forma leal, não são sagrados salvadores. São, sim, julgados pelo destino de forma carrasca.

Sinto-me sujo. Desprezível. Maltratado. Quando choro as minhas lágrimas marcam-me a cara como azulejos pintados de castanho. Sinto a sua falta. Sinto a falta de Guiomar. Dos seus braços. Do seu sorriso. Do seu cheiro. Todos os dias me lembro da promessa que lhe fiz. O pensamento de não a cumprir corrói-me constantemente. Como estará ela? Ainda viverá na nossa casa, no nosso lar? Chorará ela todos os dias por não me ter junto dela? O quanto eu gostava que o destino me levasse para lá! Não importava como, desde que lá estivesse, abraçado ao seu peito.

Tenho medo, sabes? Tenho medo de não a tornar a ver…de não tornar a senti-la nos meus braços.

Enfim… Por hoje já chega de escrever. Agora vou continuar a minha caminhada penosa para mim e invisível para os demais.


Até breve, se Deus quiser.



 João D'Hem






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