quarta-feira, 6 de julho de 2011

O desaparecimento do mundo

O céu continuava cinzento. As nuvens permaneciam condensadas, escondendo o sol. O vento apenas trazia o ruído silencioso das almas que começavam a desaparecer nas curvas redondas das nuvens. O chão caíra sob os meus pés. A minha família, os meus amigos foram com ele. As gaivotas procuravam o mar, os pardais tentavam encontrar as árvores. Mas onde estava o meu mundo? Era o que eu pensava. Ou melhor, onde estava eu? A minha camisola começava a rasgar-se. Tinham passado dois dias desde que o Mundo desaparecera, e eu permanecia ali. Seguro por um ferro que sustentava o meu peso e que rasgando a minha roupa me mantinha longe do buraco negro e profundo que todo o Mundo engolira. Cheguei a pensar se o melhor seria ficar ali, quieto, ou simplesmente desistir de uma tentativa falhada de sobreviver. Ainda se houvesse alguém para me ajudar. Alguém que conseguisse puxar aquele ferro sem me deixar cair. Mas quem? Em todo o tempo que ali estive nunca vi vivalma naquele local. Hoje, posso até dizer que nunca desejei tanto o meu trabalho stressante e o meu ignorante patrão. Comecei a desesperar. O silêncio começava a provocar em mim algo que ainda hoje não consigo explicar. Decidi apenas deixar o meu destino a Deus e adormecer. Cair ou ficar pendurado ficaria, a partir daquele momento, ao critério de Deus.


Durante um dos meus sonhos, comecei a ouvir uns ruídos. Seria imaginação, loucura ou verdade? Decidi abrir os olhos. De repente senti tremores no ferro que me sustentava. Aí pensei que era o meu fim. Percebi que estava a ser puxado, mas preferi fechar os olhos.


Quando senti terra sob as minhas mãos, abri os olhos e o meu sorriso surgiu de imediato no momento em que percebi que ele estava vivo e continuava com quatro patas...


João D'Hem

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