quarta-feira, 13 de julho de 2011

A Praia

As ondas massajavam-me os pés. O vento varria-me a cara. As minhas pernas guiavam-me pela fronteira de areal seco e molhado adormecida pelo som relaxante e refrescante do mar. A espuma, provavelmente branca, aproximava-se de mim, pé ante pé, fazendo-me cócegas e correndo para os braços de seu pai, o Mar. Alfredo corria lá longe, libertando-se do stress da cidade. Conseguia ouvir as suas patas rodopiando nas ondas. O seu ladrar feliz colava-me um sorriso na boca. Tínhamos pouco tempo um para o outro… Vivíamos na cidade. E a rotina não variava muito entre o escritório e o nosso apartamento. Não tinha muito tempo para passeá-lo. Ou melhor, ele não tinha muito tempo para me guiar para outros sítios. Decidi sentar-me. Dobrei as pernas, devagar, e apoiei as palmas das mãos na areia decorada com vestígios de conchas. Não se ouvia ninguém. Estava só, naquela praia. Teria eu reservado uma praia privada para aquela tarde, sem o saber? Sabia-me bem, estar ali. O mar é o melhor conselheiro que conheço. Funciona como uma pessoa! Como um irmão mais velho. Que nos acarinha, nos mima, nos abraça… mas que também se zanga connosco. Ao fundo, ouvia quatro pesadas patas a correr na minha direcção. Mantive-me intacta. Sabia quem era e o que ia fazer. Não valia a pena resistir. A personalidade de Alfredo era muito forte. Quando teimava em fazer algo… eu tinha que ceder. Como se tratasse de um negócio. Ele ajudava-me no dia-a-dia e eu alinhava nas brincadeiras dele. Tal como pensava, uma sombra de pelo molhado saltou para o meu colo, derrubando, a minha fraca figura, na areia. Deitou-se, apoiado as suas patas na minha barriga. Colocou a cabeça no meu peito. E pediu-me, em pensamento, que me deixasse levar… que sentisse tudo aquilo que me envolvia. Os sons. Os cheiros. As texturas. As sensações. O vento ia-me cobrindo de areia, como se o areal me abraçasse. Me aquecesse. As gaivotas voavam e pairavam no céu. Conseguia ouvir o bater das suas asas. E certamente observavam-me. Observavam-me e ao Alfredo. Observavam dois seres livres. Dois seres que se libertavam das ameaças dos alheios. Dois seres que viviam como um só, um dia de cada vez…

João D'Hem

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